ESPÉCIES MIGRADORAS
Das cerca de 32 000 espécies de peixes conhecidas, 58% vivem no mar, 41% em água doce e menos de 1%, as espécies diádromas, utilizam ambos os ecossistemas, ao longo do seu ciclo de vida. A designação ‘diádromos’ deriva do Grego antigo e é constituída por duas palavras, [Dia], que significa “através”, e [Dromos], “correr”. Por outras palavras, os peixes diádromos “correm”, isto é, migram, entre ambientes com características distintas, designadamente a água doce dos rios e a água salgada do mar.
- Migrador anádromo (do Grego [Ana], “cima”): Espécie diádroma com uma fase de alimentação e crescimento no mar anterior à migração dos adultos para o rio onde se reproduzem (e.g. salmão, lampreia-marinha, esturjão, sável e savelha);
- Migrador catádromo (do grego [Cata], “baixo”): Espécie diádroma com uma fase de alimentação e crescimento no rio anterior à migração dos adultos para o mar onde se reproduzem (e.g. enguia-europeia, muge, solha-das-pedras).
Do conjunto de ameaças à sobrevivência dos peixes diádromos nos ecossistemas aquáticos continentais, devido às particularidades dos seus ciclos de vida e, concomitantemente, ao elevado valor comercial que algumas espécies atingem, aqueles que mais contribuem para o depauperamento destas populações são: i) a interrupção da continuidade longitudinal e a perda de habitat provocada pela construção de açudes e barragens; e ii) a sobre-exploração destes recursos pela pesca comercial, e também pelas atividades furtivas.
A lampreia, o sável e a savelha distribuem-se de forma generalizada por todas estas bacias, já o salmão do Atlântico e a truta-marisca ocorrem sobretudo no Norte do país, em particular nos rios Minho e Lima.
São dois os principais fatores responsáveis pelo decréscimo generalizado destas espécies, tanto a nível nacional como internacional: (i) construção de obstáculos à migração e (ii) esforço de pesca desajustado.
Lampreia-marinha, Petromyzon marinus L.
Estatuto de conservação em Portugal: Vulnerável (VU).
Os adultos vivem no mar, migrando para os rios para realizar a postura. Desovam em zonas de seixo, cascalho e areia. As larvas (amocetes) vivem enterradas no leito arenoso do rio e preferem zonas pouco profundas, com correntes fracas e ensombradas. As larvas são filtradoras, mas os adultos são parasitas e alimentam-se do sangue de outros peixes. Durante a migração reprodutora os adultos não se alimentam. Ocorre nas principais bacias a norte do Rio Sado, e, embora em menor abundância, na bacia do Guadiana. Inicia a migração reprodutora em dezembro, com o pico da migração a ocorrer entre fevereiro e abril. É uma espécie semelpara, ou seja, reproduz-se apenas uma vez ao longo do seu ciclo de vida, morrendo após a desova. Os obstáculos à migração, com a consequente perda de habitat, e a sobrepesca, incluindo as atividades furtivas, são as principais ameaças que esta espécie enfrenta em território nacional.
Sável, Alosa alosa, L.
Estatuto de conservação em Portugal: Em Perigo (EN).
Espécie pelágica que ocupa a coluna de água. O habitat de desova caracteriza-se por uma sucessão de zonas de corrente lenta e profundidade elevada e zonas menos profundas com velocidade de corrente elevada. Ocorre nas bacias do Minho, Lima, Cávado, Douro, Vouga, Mondego, Tejo e Guadiana. A migração para os cursos de água inicia-se em fevereiro e a reprodução dura até ao mês de junho. A maioria dos indivíduos morre após a desova. Espécie planctívora. Durante a migração reprodutora não se alimentam. A perda da conectividade longitudinal dos cursos de água e a sobrepesca são as principais ameaças que esta espécie enfrenta.
Savelha, Alosa fallax (Lacepède, 1803)
Estatuto de conservação em Portugal: Vulnerável (VU).
Tal como o sável, a savelha é uma espécie pelágica. O habitat de desova preferencial difere do sável e situa-se mais a jusante no troço inferior do rio. Ocorre nas bacias do Minho, Lima, Vouga, Mondego, Tejo, Sado, Mira e Guadiana. Distingue-se do sável pelo tamanho mais reduzido e pela presença de 4 a 8 manchas escuras no dorso. A migração das savelhas para os cursos de água inicia-se em fevereiro, podendo a reprodução durar até ao mês de junho. Espécie planctívora, podendo também ingerir pequenos peixes. Durante a migração reprodutora, os peixes adultos não se alimentam. A perda da conectividade longitudinal dos cursos de água e a sobrepesca são as principais ameaças que esta espécie enfrenta.
Salmão do Atlântico, Salmo salar L.
Estatuto de conservação em Portugal: Criticamente em Perigo (CR).
Espécie bentopelágica, com distribuição no Atlântico Norte. Em território nacional ocorre essencialmente nos rios Minho e Lima.
As mandíbulas nos machos adultos apresentam uma maior curvatura antes e durante a reprodução. Os juvenis passam cerca de 1-2 anos em água doce, período após o qual iniciam a migração para o mar. Durante a sua migração, em águas estuarinas, iniciam um processo de transformação, conhecido por smoltificação, onde adquirem uma tonalidade prateada e adaptações ao ambiente marinho. Passam um inverno no mar, até regressarem ao local onde nasceram para desovar. Ao contrário do seu congénere do Pacífico, o Salmão do Atlântico, pode reproduzir-se mais do que uma vez.
Em Portugal estima-se que o efetivo populacional seja demasiado reduzido para constituir um recurso passível de ser explorado comercialmente, aumentado o seu interesse conservacionista.
Truta-marisca, Salmo trutta L.
Estatuto de conservação em Portugal: Criticamente em Perigo (CR).
À semelhança do salmão do Atlântico é uma espécie bentopelágica que se distribui no Atlântico Norte e que ocorre em território nacional sobretudo nos rios Minho, Lima, Cávado, Douro, Vouga, Mondego e Tejo.
Facilmente confundida com o seu congénere salmão, sendo a maxila superior um fator distintivo, na truta prolonga-se e pode ultrapassar o bordo posterior do olho. Possuem também uma barbatana adiposa com margem vermelha.
Esta espécie apresenta duas formas distintas: (i) Holobiótica – passa o todo seu ciclo de vida em água doce, distingue-se da forma anfibiótica pela sua coloração acastanhada com manchas claras de centro avermelhado; e (ii) Anfibiótica – migradora anádroma, sofre um processo de smoltificação, adaptação à vida no mar, onde passa a fase adulta até à maturidade sexual, altura em que regressa ao local onde nasceu para se reproduzir. Distingue-se da forma holobiótica pela sua coloração prateada e manchas escuras.
Tal como o salmão o efetivo populacional estima-se demasiado reduzido para que possa ser passível de exploração comercial.
Ambas as espécies estão muito desenvolvidas em aquicultura, sendo que em Portugal só a truta é cultivada com fins comerciais.